A MORTE DE EMANUEL
Num determinado dia, subitamente, Emanuel chamou a esposa e disse: "Elvira, vamos fazer um trato? Se você morrer primeiro que eu, prometo que diariamente visitarei sua sepultura com todos os nossos filhos. Você promete que se eu morrer primeiro fará isso por mim?". Elvira, aborrecida com esse tipo de conversa, respondeu: "Não prometo, porque isso é impossível. Você não morrerá antes de mim."
Em 01/01/1909, Emanuel estava na esquina de sua casa e avistou um devedor de seu armazém, que logo tratou de desviar de seu caminho para não lhe pagar o que devia. Emanuel resolveu enfrentá-lo e passou a segui-lo. O homem, percebendo que Emanuel estava atrás dele, correu em direção a um aglomerado de casas próximo da Santa Casa e ali desapareceu. Era um dia bastante chuvoso e Emanuel, desanimado, desistiu da perseguição e voltou para sua casa. Chegou queixando-se de fortes dores nas pernas e foi deitar-se. Elvira se surpreendeu com essa atitude, pois em tantos anos de convivência nunca o viu deitar-se durante o dia.
No dia seguinte Emanuel ardia em febre. Elvira lhe disse que chamaria um médico e perguntou qual ele gostaria que chamasse. Emanuel indicou um médico desconhecido e sua esposa estranhou essa decisão, já que os médicos que sempre os atenderam eram considerados os melhores da cidade. Emanuel reafirmou que queria ser visto pelo médico que indicara, porque ele era um patrício seu e tinha sua total confiança.
O tratamento de Emanuel foi iniciado, porém ele não melhorava. Dia após dia seu estado piorava significativamente. Um dia ele manifestou o desejo de ver a videira que plantara. Os cunhados Polycarpo e Hermenegildo o colocaram numa cadeira e o levaram até o pomar, onde ficou a contemplar as inúmeras árvores frutíferas e a linda parreira, coberta por folhas muito verdes e carregada de cachos de uvas já prontos para serem colhidos. Emanuel sentiu-se orgulhoso com o fruto de seu trabalho e chorou, como se estivesse se despedindo de tudo que lhe era mais querido.
Como o estado de Emanuel se agravou bastante, a família resolveu convocar os dois melhores médicos da cidade, Dr. Serafim V. Almeida e Dr. Gastão de Sá, que informaram que o tratamento para seu problema deveria ser outro, completamente diferente do que vinha sendo administrado. No entanto, afirmaram que para Emanuel já era tarde demais e nada poderiam fazer.
Infelizmente a situação de Emanuel piorou ainda mais e, em 18/01/1909 ele mandou chamar todos os filhos. Ao vê-los, o pai lhes disse: "Meus filhos, de hoje em diante vocês não terão mais seu pai. Obedeçam, respeitem e amem a vossa mãe. Estejam sempre unidos, sejam honestos e trabalhadores."
Ao despedir-se da esposa, entre outras coisas, a fez prometer que não permitiria que a filha Rosina trabalhasse no balcão do armazém. Pediu perdão aos familiares por desentendimentos passados e assim terminou sua existência, aos 47 anos de idade.
Durante o velório, os filhos menores ficaram na casa dos avós, distraindo-se com os primos. Somente após o enterro as crianças foram trazidas novamente para sua casa, que estava triste, sombria... Helena, ao ver o irmãozinho Victório chorando num canto da sala, começou a chorar também e foi procurar pela mãe, que estava desmaiada na cama e rodeada por mulheres que tentavam reanimá-la. É uma triste lembrança que jamais se apagou da memória da família.
ELVIRA MENEGHELLI MICELI
Fim de uma jornada de luta e bondade
Muito poderia ser dito sobre essa pessoa tão especial e iluminada, que venceu diversas dificuldades por amor a seus filhos e ao próximo. Mas aqui não caberiam tantas palavras.
Muito poderia ser dito sobre essa pessoa tão especial e iluminada, que venceu diversas dificuldades por amor a seus filhos e ao próximo. Mas aqui não caberiam tantas palavras.
Foi um exemplo de virtudes e, com resignação, suportou sofrimentos morais e físicos. Em 1956, gravemente enferma, sobreviveu graças ao auxílio de aparelhos para, em 30/10/1956, falecer aos 86 anos de idade.