ROTINA DE EMANUEL NO ARMAZÉM
Apesar do gênio explosivo, Emanuel tinha bom coração e estava sempre pronto a ajudar o próximo, sem distinção de classe, raça ou religião. Todos eram bem-vindos à sua mesa e até prova em contrário, não desconfiava de ninguém.
Seu armazém era muito bem sortido, com mercadorias que trazia de São Paulo quando viajava a negócios. Além das mercadorias para seu comércio, Emanuel sempre se lembrava de trazer um agrado para a esposa, uma jóia, vestidos e diversos presentes que destinava também à filha Rosina e à sobrinha e afilhada Hermínia. Não se esquecia, porém, da pequena Helena, que também ganhava seus presentes comprados com frequência na região.
Emanuel atendia seus fregueses na parte da manhã. À tarde, quando não viajava a negócios, gostava de cuidar da horta e do pomar, tarefa realizada com muita dedicação e carinho.
Certo dia, sua mãe Antonina, entrando no armazém, percebeu que um homem aproveitou-se de um momento em que não havia ninguém por perto e furtou algumas postas de toucinho salgado. Quando o ladrão notou que havia sido descoberto, rapidamente fugiu do local, levando a mercadoria roubada.
Antonina imediatamente deu o alarme. Emanuel, então, pegou uma corda e correu para apanhar o ladrão, que corria ladeira abaixo, pela Rua Aquibadan. Com agilidade, Emanuel enlaçou o homem, o amarrou e o levou à delegacia. O delegado elogiou sua bravura e disse a seus guardas: "Esse cidadão, sozinho, apanhou um ladrão. E vocês? O que estão fazendo aqui?". Os soldados acompanharam Emanuel e o elogiaram, mas pediram que ele não repetisse mais essa façanha, pois eles acabariam ficando mal vistos como autoridades.
Numa outra ocasião, entrou no armazém um homem franzino, negro, que pediu diversas mercadorias, rapidamente guardadas num saco. Por último, pediu uma lata de manteiga, que estava na prateleira mais alta. Quando Emanuel subiu na escada para apanhar a lata, o homem saiu correndo com as mercadorias que já havia pedido antes. Mais que depressa, Emanuel tratou de persegui-lo. O homenzinho, porém, sumiu na escuridão.
Passados alguns meses, o mesmo homenzinho voltou ao armazém, disfarçado com um chapéu que escondia parte de seu rosto. Trazia uma garrafinha, a qual pediu que Emanuel enchesse de pinga. Emanuel logo o reconheceu e, fingindo pegar a garrafa de sua mão, o agarrou pela gola do paletó. Mas o paletó acabou rasgando e o homem fugiu. Restou para Emanuel apenas o pano rasgado nas mãos. Emanuel revistou os bolsos do paletó rasgado e encontrou um cartão postal, que continha gravado um coração vermelho com letras douradas. Espirituoso, Emanuel pendurou a parte do paletó num gancho do teto e colocou o cartão postal em exposição numa vitrine. Isso servia de algazarra para a criançada.
DIA A DIA EM CASA
Emanuel estava sempre muito ocupado, porém, nas poucas horas vagas que tinha, gostava de entalhar objetos para presentear os filhos. Numa determinada ocasião, fez para as filhas dois pequenos oratórios muito belos, com uma imagem da Virgem. Para os meninos fez bonequinhos no trapézio. Esses objetos foram conservados durante muito tempo, como recordação de Emanuel. Outra coisa que Emanuel gostava muito de fazer era descascar laranjas para toda a família.
Emanuel costumava jantar muito cedo e sempre exigia, a seu lado, a companhia de Victório, seu filho caçula. Muito atencioso com os filhos, logo percebeu a vocação precoce do filho Gildo pelo desenho e o incentivou para dar continuidade a esse talento.