29/05/2011

Parte 2

MINHA QUERIDA AVÓ ANTONINA


Antonina, aos oito anos foi trabalhar como empregada na casa de uma tia viúva, Dona Mariana, riquíssima. Antes mesmo que o mês terminasse, seu pai recebia seu pequeno salário para as despesas da casa.

A tia não a tratava mal, porém, um dia, chamou-a até a sacada e disse: "Antonina... Estás vendo o enterro que está passando? É de tua mãe..." E assim, com o olhar distante e lágrimas a rolarem pela face, minha querida avó contou-me essa dolorosa passagem de sua vida.

Raquel, dezesseis anos, era filha única de Dona Mariana. Muito bondosa, afeiçoou-se à priminha e fez dela sua confidente, revelando-lhe segredos de seu coração adolescente (seu primeiro amor). Raquel amava e era sinceramente correspondida por um jovem auxiliar de ourives, cuja oficina ficava em frente à sacada de sua casa. A rua era estreita, ladeada por antigos sobrados e, assim, os jovens se correspondiam por mímicas. Dona Mariana foi informada desse namoro e repreendeu rigorosamente a filha, pois já planejava seu casamento com um "ricaço".

Para realizar negócios e fazer compras, Dona Mariana costumava ir à Mantova. Numa certa ocasião, antes de viajar, disse à filha que lhe traria ricos vestidos e jóias. Porém, se durante sua ausência se correspondesse com o tal rapaz receberia um grande castigo. Assim, antes de partir, pediu a Antonina que vigiasse sua filha. Ao regressar foi informada por pessoas pagas por ela sobre o encontro dos dois jovens. Abriu as malas e mostrou os lindos presentes que trouxera, mas a filha receberia apenas o castigo prometido.

Raquel possuía lindos cabelos castanhos, que realçavam ainda mais sua beleza. Sua mãe levou-a para um cômodo nos fundos da casa e com uma tesoura cortou-lhe a formosa cabeleira. As lágrimas e súplicas da filha não a comoveram. Antonina, que a tudo assistia, ficou estarrecida e tão angustiada que não quis mais permanecer na casa e voltou para a companhia do pai.

Passados diversos anos, vamos encontrar Antonina numa humilde casa. Ela transformou-se numa delicada jovenzinha, morena, de longos cabelos negros, lisos, presos por duas tranças em forma de coroa ao redor da cabeça. Dessa mesma forma ela continuou a se pentear até os últimos anos de sua vida.




ANTONIO MENEGHELLI E ANTONINA VALLI
Casamento e filhos

Luiz, o pai de Antonina, trabalhava em uma carpintaria, cujo proprietário se chamava José Meneghelli (sua esposa era Luiza di Pauli; seus filhos, Batista, Leandro, Ângelo, Antonio e Maria Bruna, uma família muito estimada). Antonio era um jovem alto, vigoroso, de bela aparência e muito disputado pelas jovens, entre elas a filha de um rico industrial, que chegou a propor-lhe que, caso desposasse a filha, nem precisaria mais trabalhar, pois lhe daria um importante cargo em sua firma. Mas Antonio amava Antonina, aquela jovenzinha humilde, delicada e escondida como uma violeta. Assim, ela foi escolhida e ficaram noivos. Deus a premiava, dessa forma, após uma infância tão sofrida.

Algum tempo se passou e o casal se aproveitou de uma boa oportunidade para se unir definitivamente. A Rainha Margarida, esposa do Rei Humberto di Sabóia, deu a luz a seu primogênito, o Príncipe Victório Emanuele III. Para comemorar o acontecimento, a família real concedeu a graça de liberar do serviço militar todos os jovens que completassem 21 anos e se casassem no ano da comemoração. Antonio foi um dos agraciados, pois completaria 21 anos em 20 de julho daquele mesmo ano. Por esse motivo, o casamento com Antonina foi antecipado.

Antonio era bom, honesto e muito trabalhador. O casal era muito feliz e, para completar essa felicidade, nasceu seu primeiro filho, inundando o lar de alegria. Infelizmente essa felicidade durou pouco, pois o filho adoeceu e os médicos não conseguiram curá-lo. Assim, Guido faleceu ao completar um ano de idade, deixando seus pais inconsoláveis, principalmente Antonio.

O vigário da vila, que tinha muita amizade com seus paroquianos, convidou Antonio a acompanhá-lo até o cemitério. Lá chegando, dirigiram-se a diversas sepulturas e o vigário disse: "Vê, Antonio? Aqui tem um homem que era chefe de família e deixou sua esposa e filhos... Ali, uma mãe que também deixou filhos e esposo... Aceite a vontade de Deus. Guido é mais um anjinho a interceder por nós". Com essas e outras palavras de conforto o vigário conseguiu levar conformidade ao coração de Antonio.

O segundo filho nasceu e se chamava Teodósio (quem escolhia os nomes era o vigário). O menino cresceu rodeado de amor e carinho. Seus pais, com medo de perdê-lo também o mimaram demais. Em consequência disso, o menino tornou-se voluntarioso e cheio de caprichos. Teodósio estava com cinco anos quando nasceu, em 18/09/1870, uma menina que recebeu o nome de Ema Maria Elvira, a qual, posteriormente, assinaria apenas Elvira. O casal teve ainda os seguintes filhos: Polycarpo e HERMENEGILDO (nascido em 13/10/1875), além das meninas Cuintília e Cinira, que faleceram aos poucos meses de idade.