DESTINO: SÃO CARLOS - SP
O Consulado Italiano determinava os destinos dos imigrantes que chegavam ao Brasil. Assim, a família de Antonio Meneghelli seguiu de trem até a cidade de São Carlos - SP, onde também permaneceram numa hospedaria para imigrantes. Alguns dias se passaram até que dois empregados de uma fazenda vieram buscá-los com um carro de boi. Soluçando, obedeceram aos empregados e partiram, juntamente com outras famílias.
Depois de atravessarem a cidade, embrenharam-se no mato. Às vezes, para caçoar dos imigrantes, os empregados paravam o carro e gritavam: "Pinga! Maria Pinga!...". Os passageiros, que nada entendiam, julgavam que fosse uma ordem para descer do carro. Logo que desciam, os empregados gargalhavam e vagavam para lá e para cá, assobiando e rindo dos italianos.
Ao entardecer, chegaram à fazenda, de cujo proprietário não me recordo o nome. Depois de se lavarem no rio, foram levados à casa do fazendeiro e entraram na sala de jantar, onde havia uma grande mesa. O fazendeiro ocupava a cabeceira da mesa, ladeado por seus familiares. Depois de apresentados, ocuparam seus lugares. Ficaram admirados com a fartura de queijo ralado que estava à disposição. Na realidade, porém, tratava-se de farinha de mandioca, alimento que eles não conheciam.
Antonina não conseguia conter suas lágrimas e chorava copiosamente. O fazendeiro, compadecido, indagou porque ela não comia e chorava tanto. Perguntou se algum filho dela havia morrido. A pobrezinha, soluçando, respondeu-lhe em seu dialeto. Percebendo que não se entenderiam, o fazendeiro mandou chamar um rapaz que aparentava aproximadamente 25 anos. Era alto, forte, de cabelos claros e olhos castanhos um tanto tristonhos. Seu nome era Emanuel.
O fazendeiro ordenou a Emanuel: "Mandei te chamar porque me parece que essa família de patrícios seus não está gostando daqui. As mulheres choram muito e não nos entendemos. Por favor, diga-lhes que, se não quiserem ficar, pagarei a viagem de retorno a São Paulo. Lá se entenderão com o Consulado Italiano". Emanuel prontamente respondeu: "Si, si, vá bene signore!". Mas ao deparar com aquela linda jovem de olhos marejados, seu coração pulsou fortemente. Apaixonou-se à primeira vista por Elvira e imediatamente teve uma idéia. Mudou tudo o que o fazendeiro pedira para dizer-lhes e os aconselhou a terem mais paciência, pois era natural que estranhassem a nova vida. Logo acabariam se habituando e até gostando do lugar. O dialeto que falavam era muito diferente, mas como Emanuel dominava a língua toscana ensinada nas escolas, todos acabaram por se entender.
DIFÍCIL ADAPTAÇÃO
Foi extremamente doloroso para a família ver sua nova moradia, feita de pau a pique, com chão batido e telhado de sapé. Não imaginavam que existissem casas assim, tão precárias. Muitas lágrimas foram derramadas até que se conformassem com a nova situação.
Todas as tardes, após o jantar, Emanuel os visitava, consolando-os com sua presença e sua conversa. Aproveitava também para lhes ensinar a língua portuguesa. Emanuel cuidava da horta e do pomar da fazenda. Logo ao amanhecer colhia as melhores frutas e hortaliças e as despejava pela janela da amada.
Apesar de toda a dedicação de Emanuel, seu amor por Elvira não era correspondido. Ela ainda não havia esquecido do grande amor que ficara na pátria tão distante e do qual, agora, só restavam saudades.
Em certa ocasião, Elvira estava na companhia do irmão lavando roupas no rio. Por serem muito claros, com pele delicada e faces rosadas, usavam chapéus de palha como proteção por causa do sol forte. Na época, Elvira estava com 16 anos e seu irmão Polycarpo com 14. Nesse momento chegou um dos empregados, com ordem para que os acompanhassem até a presença do fazendeiro. Eles manifestaram o desejo de ir até sua casa para trocar as roupas e deixar os chapéus, por acreditavam não estarem apresentáveis para ir até a casa grande. O empregado, porém, não permitiu, dizendo que a ordem era para irem imediatamente.
Ao chegarem na sala onde os aguardavam parentes e amigos do fazendeiro, os pobrezinhos sentiram-se muito envergonhados. O fazendeiro lhes disse que queria que dançassem e cantassem para todos, pois um dos presentes afirmava tê-los visto cantar e dançar ao som de um violino em São Paulo. Os irmãos, confusos, disseram que possivelmente tratava-se de um engano, pois jamais dançaram e cantaram em público.
Aproveitando-se da oportunidade, o fazendeiro propôs à Elvira que se casasse com um de seus sobrinhos ali presente, que também encantou-se por ela. O sobrinho reiterou seu pedido, dizendo que possuía bens suficientes para enriquecê-la e também a toda sua família. Elvira, porém, não aceitou.